sábado, 2 de setembro de 2017

Eu odeio Chico Buarque - Como me tornei uma semi celebridade.

Eu odeio Chico Buarque -

Como me tornei uma semi celebridade.



Um conto de ficção escrito por Francisco Águas



Estou sendo cotado para um reality show de um canal à cabo.  Dei entrevista em um talk show de um comediante na madrugada. Fiz comercial de material esportivo de segunda linha. Fui contratado como dj (mesmo sem ser dj) para festas noturnas no interior. Fui jurado em programas de calouros. Cheguei a dar autógrafos, a tirar selfies com fãs.  O vídeo que me lançou ao semi estrelato foi o mais visualizado no YouTube no ano. Telejornais faziam matérias sobre o vídeo.
Minha vida mudou radicalmente. De repente me tornei uma celebridade da segunda divisão. Minha vida pacata e completamente anônima evaporou-se instantaneamente. Passei a ser reconhecido nas ruas, deixei meu emprego de auxiliar de contabilidade em um pequeno escritório no triângulo mineiro.
Tudo porque em uma pelada de futebol, encerrei a famosa carreira de peladeiro de ninguém mais, ninguém menos do que Francisco Buarque de Holanda! Com um carrinho violento, covarde e vil, rompi os ligamentos dos dois tornozelos do dono do Polytheama!
Chico Buarque era para mim um grande ídolo. Cresci admirando suas canções.  Li com entusiasmo seus romances.  Sempre tive inveja do fato de ser amado pelas mulheres. Adorava sua história de compositor que enfrentou a ditadura militar. Suas peças teatrais eram memoráveis, até músicas infantis fez com maestria.  Era minha maior referência!
Nunca imaginei que jogaria uma pelada com Chico Buarque.  Estava eu, ruminando minha vida nonsense, quando recebi um convite que mudaria minha existência. Em uma tarde de domingo, recebi a ligação de um amigo, secretário de cultura de uma pequena cidade próxima à belo horizonte.  Achei que fosse piada.  Convidou-me para jogar uma partida comemorativa contra o legendário Polytheama, o time de Chico.
Explicou-me que não era brincadeira.  Meu amigo, secretário de cultura da cidade onde bisavô mineiro de Chico teve uma fazenda, queria fazer uma homenagem aos 70 completados pelo artista.  Queria entregar a chave da cidade para o músico, leva-lo ao plenário da câmara de vereadores para condecorá-lo com o título de cidadão honorário, jantares de gala e discursos na praça principal.
Chico, como é avesso à homenagens e badalação,  recusou todas honrarias.  Meu amigo insistiu, mas a assessoria do cantor foi irredutível.  Como meu amigo era amigo de um companheiro de futebol de Chico, tentou ao menos marcar um jogo comemorativo na pequena cidadela. O compositor, que era verdadeiro aficionado no esporte, gostou da ideia e aceitou o convite, desde que não houvesse discursos e fosse não fosse divulgado na mídia das grandes capitais.
Peguei assim um ônibus no triângulo mineiro rumo aos arredores de Belo Horizonte.  Comprei uma chuteira nova parcelada, uma bolsa para carregar meus apetrechos futebolísticos e parti para realizar meu sonho de conhecer Chico. No ônibus lotado, mal podia suportar a ansiedade. Ficava pensando se a equipe do Chico não desmarcaria o jogo, se eu teria oportunidade de tirar uma foto com ele.
A viagem foi longa. Saí do triangulo mineiro rodei em um ônibus velho por mais de 600 kms. Seu trajeto foi pontuado por várias paradas. O ônibus parava em todas as cidadelas pelo caminho. Na metade do caminho, adentrou no veículo um senhor muito falante. Não parava de falar em voz alta, de como era íntimo do presidente do Atlético Mineiro e de como fora importante para influenciá-lo na contratação do astro do futebol, Ronaldinho Gaúcho, que até então estava em baixa. Que teria ligado para o Kalil (então presidente do clube mineiro), que ele estava em dúvida, mas com a sua indicação, iria contratar o craque. Assim, de acordo com o passageiro falante, Ronaldinho Gaúcho só levou o Atlético ao título da Libertadores da América porque ele avalizou a sua contratação.
Enquanto o cidadão conversava cada vez mais alto e contava como tinha intimidade com o folclórico presidente do Galo Mineiro, eu ficava cada vez mais ansioso para encontrar o meu ídolo. Cantarolava mentalmente várias de suas memoráveis canções, e até mentalmente eu desafinava. Ficava pensando na genialidade de suas letras, das harmonias musicais, da inventividade de seus romances, com seu capricho da linguagem. Cada quilômetro rodado eu ficava mais distante da conversa alta e delirante do atleticano. Quanto mais pensava na genialidade da obra de Chico, mais eu enxergava a minha mediocridade.
Com o coração em sobressaltos, cheguei ao meu destino final. Meu amigo me buscou na rodoviária. Levou-me até uma pensão onde ficaria hospedado. O jogo de homenagem ao artista seria às nove horas da manhã. Adentrei no quarto modesto do estabelecimento e logo pensei em tomar um banho. Fui logo tomando um choque na torneira que abria a ducha do chuveiro antigo – minha ansiedade aumentou ainda mais com a descarga elétrica.
Sob uma ducha com pouca e morna água, tentei acalmar os ânimos. Ensaiava mentalmente diálogos com Chico. Como deveria me portar perante meu ídolo. Como mostrar minha admiração sem me parecer ridículo, sem incomodar o compositor. Arquitetei várias falas mentais, algumas me pareceram um tanto blasé, outras bastante deslumbradas, sempre me sentia inadequado.
Saí para comer algo. Não tinha fome, mas precisava me alimentar para ter energia para o jogo da minha vida. Nunca fui um craque de bola, mas queria ao menos não parecer um grande perna de pau. Caminhei poucos passos da pensão e encontrei um humilde restaurante. Adentrei no recinto e pedi o cardápio. Pedi um prato feito com um acréscimo de um ovo frito com a gema mole. Comi vagarosamente enquanto pensava na possibilidade de impressionar Chico com o meu futebol. Porém lembrei que nunca impressionei ninguém com nada.
Após a refeição frugal, voltei para a pensão. Já passava das dez da noite e precisava dormir. Busquei o leito para o meu repouso. Na manhã seguinte eu deveria estar preparado para uma apresentação de gala, jogar o fino futebol contra o time do Chico! Na cama de mola, joguei meu já exausto corpo. Minha cabeça estava acelerada como nunca estivera. Pensei que conseguiria pegar logo no sono, visto que viajara o dia todo e estava muito cansado. Ledo engano.
 Na penumbra do pequeno quarto meus pensamentos viajavam velozes. Nunca imaginei que poderia jogar futebol com Francisco Buarque de Holanda. A possibilidade de chegar perto da mítica personalidade brasileira, me deixou atônito. Seu vulto gigantesco me reduzia pó. A proximidade do encontro evidenciou minha vida vazia. Era um auxiliar de contabilidade frustrado. Mal pagava minhas contas e contava os dias da semana para ficar longe do trabalho. Minha vida amorosa era marcada por fracassos e desilusões. A única namorada que tive era justamente uma fã ardorosa do Chico. Nos conhecemos em um grupo do Orkut, intitulados Chicólatras Anônimos. Porém, depois de alguns poucos anos de relacionamento ela não suportou minha mediocridade e me abandonou. Durante todos os outros anos me contentei com prostitutas baratas da cidade ou com encontros que meus colegas de trabalho tentavam me arranjar, mas que nunca prosperavam.
 A noite transcorria e eu ficava cada vez mais angustiado. Na pequena cidade em que vivia, era conhecido como o cara que gostava do Chico Buarque. Em um ambiente onde a maioria das pessoas gostavam de músicas de massa, eu era conhecido como alguém que tinha o gosto refinado, era por isso admirado. De certa maneira, me sentia erudito, inteligente, profundo, porque era fã do famoso compositor de olhos verdes. Cada vez que lia uma crítica exaltando os seus feitos, eu me sentia realizado, me sentia premiado como se o elogio tivesse sido para mim. Assim, rolando no colchão de molas da pensão, ficou evidente que até a fama de rapaz culto da cidade pequena, eu devia à Chico Buarque e não às minhas qualidades. Me senti gozando com o membro alheio. Me encontrei na beirada do abismo do vazio da minha vida. Fiquei aterrorizado com a possibilidade de olhar nos olhos de meu ídolo.
Adentrei a madrugada cada vez mais angustiado. A admiração pelo artista transmutou-se em raiva. Me sentia esmagado pelo seu vulto. O sono não vinha e fiquei pensando que Chico não podia ser tão genial como era. Fiquei pensando nas várias letras de músicas e tentando encontrar defeitos. Em como ele era um mal cantor, que sua voz de taquara rachada era irritante, mas no fundo isso me deixava mais para baixo, pois mesmo sem ter uma voz bonita, conseguia cantar bem suas músicas. Imaginava também que deveria ser má pessoa, que deveria ser mau educado, que deveria ser esnobe, arrogante, visto que ninguém conseguiria ser humilde sendo considerado um gênio das artes. Também passei a imaginar que com sete décadas já não daria conta de jogar bola mais, que eu conseguiria marcá-lo facilmente em campo. Da mesma maneira, achei que com um rosto esculpido pelo tempo, marcado por rugas e com cabelos desbotados, as mulheres já não mais gostariam dele.
Quando dei por mim, o sol já raiava. Tinha passado a noite em claro. Chico Buarque tinha roubado meu sono. Logo meu amigo passaria na pensão para me buscar para o evento. Caí num choro compulsivo. Vi que odiava Francisco Buarque. Após o pranto intenso, me levantei e me dirigi ao banheiro. Abri a torneira e levei outro choque. Fiquei alguns minutos catatônico de baixo do chuveiro. Pensei em tomar um café para me despertar.
Me dirigi ao saguão da pensão. O café da manhã servido era bastante modesto. Comi um pão com margarina, tomei um café ralo e doce que logo casou uma profunda azia. Levantei-me da mesa e retornei ao meu quarto. Nos aposentos em que pernoitei insone, repensei a minha angústia. Não existia motivo para estar assim. Na verdade seria um dia de alegria. Jogaria futebol com meu ídolo, com sorte daria um abraço nele, tiraríamos uma foto e eu poderia relatar a ele como ele é importante na minha formação, como ele é importante para o país, como ele enriqueceu nossa cultura. Com sorte tomaríamos até uma cerveja juntos. Não existia motivo para tristeza, eu teria uma oportunidade que muitos gostariam de ter.
Em pouco tempo meu amigo passou. Muito empolgado. Falou que Chico já se encontrava em direção ao pequeno estádio municipal onde seria jogado a esperada pelada. Peguei meus materiais esportivo e entrei no carro do meu amigo. Ele notou que estava com os olhos fundos. Perguntou se tinha dormido mal. Falei para ele que era só a emoção de jogar com o cantor. Mal sabia ele que não tinha pregado os olhos.
Chegamos no estádio. Entrei no vestiário. Encontrei as pessoas da cidade que formariam o time que jogaria contra o Polytheama. Me apresentei, falei que tinha sido convidado pelo secretário de cultura. Me perguntaram em qual posição jogava e informei que era na zaga. Me passaram a camisa número 3. Falaram justamente que deveria marcar o craque compositor.
Colocamos os uniformes esportivos. Atravessamos o túnel entre o vestiário e o campo. Me senti um jogador profissional. Logo avistei no gramado uma banda marcial tocando a melodia da música “A Banda”, primeiro sucesso do homenageado. Do lado da banda, um faixa em homenagem “Chico os cidadãos dessa cidade te recebem de braços abertos”. Fiquei fazendo um pequeno aquecimento. Corria de um lado para o outro, dava pulos, a ansiedade estava elevada.

Em poucos instantes, o time do Polytheama adentrou ao gramado. Chico, com a camiseta 9 com o nome Pagão (seu craque de seus jogos de futebol de botão), era o primeiro da fila. Ao som da banda marcial, foi recebido pelo prefeito que quebrando o protocolo, lhe entregou a chave da cidade. Chico constrangido, recebeu a chave e agradeceu. O prefeito, no gramado mesmo, de chuteiras e uniforme, fez um discurso que deixou ainda mais embaraçado o homenageado.
Depois do cerimonial improvisado. Para minha surpresa, Chico caminhou em nossa direção. Com muita simplicidade e carisma apertou a mão de um a um dos jogadores adversários. Pouco a pouco se aproximava de mim. Fui ficando sem reação. Todos os cumprimentados abraçavam o artista e falavam breves palavras que Chico agradecia com um simpático e carismático sorriso no rosto. Quando foi a vez de me cumprimentar, eu fiquei mudo. Mal estendi a mão para o septuagenário atleta. Sorridente, estendeu a mão e apertou a minha. Sem reação, nada disse e nem ao menos pude abraça-lo. Como em um filme, eu vi o herói se afastar da tela e voltar para o outro lado do campo para se aquecer para a pelada. Pensei comigo mesmo. Ele é humilde. Não é arrogante. Fiquei com raiva.
Do lado de fora do alambrado, uma multidão de mulheres gritavam enlouquecidas o nome do cantor. De adolescentes a mulheres maduras, todas suspiram pelos olhos de ardósia do camisa 9 mais famoso das peladas brasileiras. Fiquei desolado. Me senti como um fantasma.
Com os times postados em campo, o juiz apitou. Estremeci. Mas logo pensei, na zaga, não vou deixar esse velho pegar na bola. Pensei que ele não conseguiria fazer nada em campo. Já na terceira idade, não seria páreo para um zagueiro de meia idade. Nosso time deu a saída de bola. Como nosso time era desentrosado, logo perdemos a bola. O Polytheama começou a tocar a bola calmamente no meio de campo, nisso, o Camisa 9 se aproximou da área e se aproximo de mim. Na primeira bola que jogaram para Chico, antecipei e dei um bico para frente. Quase gritei de emoção. Não deixei-o pegar na bola. Seria fácil marcar o velhote. Com sorte, em um escanteio eu ainda subiria ao ataque e faria um gol de cabeça. Eu iria vencer Chico Buarque.
O jogo continuou sem emoções. O time de Chico tocava a bola lentamente, cadenciando o jogo. Nosso time mal pegava na bola. Porém o artista recuou um pouco e recebeu a bola. Partiu para o ataque. Certamente não corria como um jovem atleta, mas não parecia um velho, conseguiu driblar um companheiro de time, veio em minha direção. Imaginei que conseguiria tirar facilmente a bola daquele senhor. Me enganei redondamente.
Ao se aproximar de mim, dei um bote em seu direção, esticando minha perna direita em sua direção. Com sutileza, Chico colocou a bola entre as minhas pernas, pegando-a do outro lado. Me senti como se um punhal tivesse trespassado minhas vísceras, me ferindo de morte. A torcida delirou. Chico continuou com a bola e de frente para o goleiro, com classe, chutou rasteiro no canto do gol, fazendo um belo gol.
 Meus olhos encheram de lágrimas. Contive o choro. Enquanto Chico corria para abraçar os colegas e cumprimentar a torcida, eu vivi uma eternidade. Contive o choro, mas minhas vistas ficaram turvas. Perdi a sensação de direção. Fiquei parado porque me faltou ar, minhas pernas bambearam. Não sabia bem o que fazer. Quando o juiz reiniciou o jogo, já não sabia muito bem como me comportar.
 Respirei fundo. Respirei com ódio de Chico. Ele tinha acabado com a minha honra. Meus olhos ficaram vermelhos.  Minha cabeça girava. O jogo tinha recomeçado, não sabia bem o que fazer. Eu queria vingança, eu queria que Chico sentisse o gosto do vexame, do fracasso, da lona. Mais uma vez, craque das peladas voltou ao meio de campo e recebeu a bola de costas para o ataque. Me senti como um animal selvagem que vê sua vítima. Em um ímpeto de agressividade assassina, pulei com os dois pés nos tornozelos de Chico, por trás, furiosamente com todo o meu amor que tinha se transformado em ódio, acertei violentamente o cantor.
 Ele caiu no chão se contorcendo. Eu levantei, ainda em transe, me dirigi a ele caído. Com o dedo em riste, apontei para ele e bradei que ele devia respeitar mais as pessoas. Logo, todos me cercaram e me tiraram de perto do compositor. Ninguém entendia muito o que se passava. Os torcedores do Estádio Municipal pularam o alambrado e partiram em minha direção. Certamente eu seria linchado. 
Meu amigo que assistia o jogo de fora correu em minha direção. Sabia que eu corria risco de vida. Me agarrou pelo braço e me levou para o túnel, corremos por dentro do vestiário e saímos pelo portão dos fundos. Entramos no carro e literalmente fugimos. O secretário de cultura não falava uma palavra. Só chorava. Entramos discretamente no hotel onde peguei a minha mala e ainda vestido com o uniforme do jogo, fugi da cidade. Meu amigo pediu um táxi para mim e falou que acertaria a diária no hotel.
No taxi, ainda suado comecei a pensar no que tinha feito. Fui para Belo Horizonte, visto que não era seguro ficar na pequena cidade. Na rodoviária de lá eu pegaria um ônibus e voltaria para casa. No terminal rodoviário, tomei um banho e tirei a roupa esportiva. Procurei um guichê para comprar uma passagem. O próximo ônibus demoraria umas duas horas. Enquanto isso, fiquei no saguão desfalecido em um cadeira. Para minha surpresa, logo surgiu em um plantão da televisão local, a notícia de que o famoso cantor e compositor Chico Buarque tinha sido violentamente agredido com um forte e agressivo carrinho em uma cidade nas proximidades da capital mineira. Foi a primeira vez, de inúmeras vezes, que eu via o vídeo de minha agressão ao meu ex ídolo. Fiquei com medo de ser reconhecido.
Logo o meu ônibus chegou e eu parti. Com todas as emoções vividas e o cansaço, encostei no banco do veículo e adormeci profundamente. Não acordei nem nas muitas paradas dos pequenos municípios em que o ônibus passava. Fui acordado pelo motorista no meu destino. Tinha dormido mais de dez horas seguidas. Acordei assustado. Com a boca toda babada. Tinha tido sonhos com Chico Buarque, que ele me perseguia com pedras na mão, cantando,  “taca pedra no zagueiro, taca bosta no zagueiro”.

domingo, 23 de julho de 2017

Is This The Life We Really Want​? Letra traduzida da Canção de Roger Waters

Is This The Life We Really Want​? Letra traduzida da Canção de Roger Watters

Roger Waters foi o principal compositor da fase clássica do super grupo britânico de rock Pink Floyd. É autor de letras brilhantes, que marcaram a formação de várias gerações. Temas como sociedade contemporânea, guerras, consumismo, loucura, amor, ódio, já foram explorados de maneira profunda pelo compositor. 
Depois de abandonar o lendário grupo e de ficar 25 anos sem lançar um álbum de músicas inéditas, lançou o disco Is This The Life We Really Want​? Neste disco, fala sobre política, sobre a crise dos refugiados, sobre as pretensões de nossa sociedade. Disco tocante, bem produzido e que mostra que ele ainda é um compositor relevante, como na época áurea do Pink Floyd. Vejam a contundência e a beleza da letra da canção que dá título ao disco:




É Essa a Vida Que Realmente Queremos?
[Trecho de discurso de Donald Trump]
Então, como exemplo, você é a CNN. E eu quero dizer, é historia atrás de história e mais histórias, isso faz mal. Eu ganhei. Eu ganhei. E outra coisa, quanto ao caos. Não existe caos algum. Nós estamos operando essa máquina de maneira muito afina-
[Roger Waters]
O ganso engordou
A base de caviar e bares chiques
E ossos hipotecados
E lares destruídos
É essa é a vida ? o cálice sagrado?
Não é o suficiente nós termos conseguido?
Ainda precisamos que os outros falhem?
O medo, o medo move a usina dos homens modernos
Medo mantém todos nós na linha
Medo de todos esses estrangeiros
Medo de todos os seus crimes
É essa a vida que realmente queremos?
Com certeza deve ser
Pois essa é uma democracia e o que dissermos importa
E toda vez que um estudante é atropelado por um tanque
E toda vez que o cachorro do pirata é forçado a caminhar na prancha
E toda vez que uma noiva russa é posta a venda
E toda vez que um jornalista é deixado pra apodrecer na cadeia
E toda vez que a vida de uma jovem é perdida gratuitamente
E toda vez que um imbecil se torna presidente
E toda vez que alguém morre buscando as chaves no bolso
E toda vez que a Groenlândia cai na porra do oceano é porque
Todos nós, Brancos e Pretos
Mexicanos, Asiáticos, e todo tipo de grupo étnico
Até o povo o povo de Guadalupe, o velho, o jovem
Bruxas sem dentes, super modelos, atores , viados, corações sangrando
Estrelas do Futebol, homens atrás das barras, lavadeiras, alfaiates e putas
Vovós, vovôs, tios, tias
Amigos, relações e vagabundos sem casa
Clérigos, caminhoneiros, diaristas
Formigas - talvez formigas não
Por que não as formigas?
Bem porque é a verdade
As formigas não tem QI suficiente pra diferenciar
A dor que os outros sentem
E por exemplo, cortando plantas
Ou rastejando nas brechas das janelas em busca de latas de mel abertas
Então, assim como formigas, somos apenas burros?
É esse o porque de não sentirmos ou vermos?
Ou estamos todos entorpecidos em num reality TV?
Então, toda vez que a cortina cair
Toda vez que a cortina cair em cima de uma vida esquecida
É porque nós todos apoiamos, silenciosamente e indiferente




terça-feira, 18 de julho de 2017

Record denuncia: delação de Antonio Palocci põe TV Globo na mira da Lava Jato.

Record denuncia: delação de Antonio Palocci põe TV Globo na mira da Lava Jato.


Nada que quem acompanha a mídia alternativa não conheça. Porém é interessante que um grande meio de comunicação, mesmo sendo uma empresa como a Record, do falso profeta Edir Macedo, possa divulgar informações tão importantes para a população.
A reportagem foi feita pelo repórter Luiz Carlos Azenha, que além de repórter da emissora citada, possuiu um dos melhores blogs políticos da atualidade, o www.viomundo.com.br. Segue a reportagem:


domingo, 9 de julho de 2017

Pré Golpe - 7X1

Há três anos publiquei esta reflexão no meu perfil do faceboock, em resposta a um texto apócrifo sobre o mal fadado 7x1, querendo colar a derrota aos governos do PT. É interessante, depois do golpe consolidado observar como um exército estava divulgando a ideologia de ódio que deu possibilidade ao golpe. Distorções de premissas, desonestidade intelectual, complexo de vira lata, tudo isso, já dando demonstrações de o quanto a pós verdade foi utilizada para possibilitar o golpe. Segue a breve reflexão:



A Copa do Mundo realizada no Brasil é um sucesso. Tem corrido sem maiores problemas e sendo considerada pela opinião pública como a melhor de todos os tempos. Bem organizada e acolhedora. A maioria dos turistas estrangeiros se encantou com a receptividade da população brasileira, nossas paisagens e nossa pluralidade cultural.
Tais acontecimentos contrariaram a previsão apocalíptica da mídia coorporativa que pregava o caos e de muitos brasileiros contaminados pela síndrome de vira lata. Porém, após a eliminação da seleção brasileira nas semifinais, estes que estavam calados e mesmo incomodados pelo sucesso do evento realizado sentiram-se vingados. Dessa maneira, a desonestidade intelectual começou a aparecer. Vejam o texto cheio de sofismas e de preconceito que está sendo veiculado nas redes sociais:
"Isso representa mais que um simples jogo! Representa a vitória da competência sobre a malandragem! Serve de exemplo para gerações de crianças que saberão que para vencer na vida tem que ralar, treinar, estudar! Acabar com essa história de jeitinho malandro do brasileiro, que ganha jogo com seu gingado, ganha dinheiro sem ser suado, vira presidente sem ter estudado! O grande legado desta copa é o exemplo para gerações do futuro! Que um país é feito por uma população honesta, trabalhadora, e não por uma população transformada em parasita por um governo que nos ensina a receber o alimento na boca e não a lutar para obtê-lo! Amar a pátria em um jogo de futebol e no outro dia roubar o país num ato de corrupção, seja ele qual for, furando uma fila, sonegando impostos, matando, roubando! Que amor à pátria é este! Que sirva de lição para que nos agigantemos para construirmos um país melhor! Uma verdadeira nação que se orgulha de seu povo, e não só de seu futebol!" Autor desconhecido.
O texto, encharcado de viralatismo, já começa a fazer ligações forçadas entre o futebol e nosso país. Cheio de desconhecimento sobre futebol, ou desonestidade intelectual mesmo, desqualifica o futebol brasileiro. As pessoas que conhecem de fato o futebol mundial reconhecem que foi justamente o fato dos jogadores brasileiros serem altamente capazes de improvisarem em campo, de utilizarem a sua ginga e sua maleabilidade, que transformaram o futebol brasileiro na maior potência do esporte. Por ironia, muitos especialistas estão justamente comparando o atual time da Alemanha, com o futebol praticado pelos grandes jogadores brasileiros. Um futebol técnico, criativo, não apenas pautado pela força física. Ou seja, o argumento que o jeitinho brasileiro perdeu apenas para organização europeia é uma ridícula falácia.
Falácia essa apenas como subterfúgio para mais uma vez, de maneira complexada, criticar o país, tentando fazer-nos esquecer do sucesso da realização na chamada Copa das Copas. De fato a vitória da seleção Alemã trará lições para a seleção brasileira, visto que sua Confederação de Futebol é comandada por interesses bem diferentes do próprio futebol.
Mas falar que o povo brasileiro ganha dinheiro que não é suado é omitir a dura luta de milhares de trabalhadores que levantam cedo, trabalham o dia todo e ainda tem que se submeter as duras condições de trabalho.
Por outro lado, pessoas que não suam para ganhar dinheiro suado são justamente as classes abastadas, como banqueiros que exploram a nossa população com taxas de juros extorsivas, muitas das vezes com a conivência do Poder Judiciário. Banqueiros esses que odeiam a atual gestão do Poder Executivo da União Federal que tentou baixar tais juros.
Falar que programas sociais acostumam a população a não suar para ganhar o seu sustento é extremamente mesquinho e estúpido. Os programas sociais agem para tirar as pessoas em situação de risco, colocando um pouco de cidadania em um número enorme de excluídos e colocando os mesmo no mercado de trabalho e na economia, beneficiando assim a todos e não apenas uma pequena parcela da elite, concentrando a renda e deteriorando a nossa economia.
O texto continua despejando preconceitos, citando o ridículo “vira presidente sem ter estudado”. A má-fé ou mesmo a ignorância é tanta, ao achar que apenas o conhecimento acadêmico é válido, ao achar que as experiências de vida de uma pessoa não são capazes de lhe preparar para entender os anseios e necessidades de um povo. Sem contar o fato que muitas pessoas até então não estudavam porque não tinham nenhuma oportunidade.
Esse mesmo presidente que não “estudou” foi o que mais fundou universidades federais, escolas técnicas e programas de acesso à universidade em nosso país. Mas a impressão que passa é justamente isso que incomoda à essas pessoas, justamente o fato que as oportunidades estão sendo estendidas a mais pessoas, que seus filhos começam a conviver com os filhos de trabalhadores braçais, tirando a exclusividade de sua antes intocada casta, gerando um verdadeiro mal estar para chamada elite branca.

De fato, o nosso país tem muito que melhorar, porém, nos últimos tempos, nosso país tem dado saltos gigantescos que os cegos, ou os intelectualmente desonestos insistem em negar. Então, caro leitor, antes de compartilhar um texto, reflita se o que está sendo dito é realmente coerente, ou se você está apenas repetindo como um papagaio sem nenhuma reflexão.


terça-feira, 6 de junho de 2017

A “modernização” da legislação trabalhista é o renascimento da Idade Moderna (1453-1789)

por Cezar Britto
(http://m.congressoemfoco.uol.com.br/)




Modernizar se tornou a palavra da moda, aquela em que todos se arvoram na condição de defensor, apóstolo ou praticante. Certamente por “desapego ao passado” ou simples marketing político, não mais se usa o vocábulo mudança, pois ele se confunde com o termo oposição, ambos conhecidos nos debates, propagandas e comícios eleitorais. A sedução substitutiva vocabular é justificada, assim, pelo simples fato de que a expressão modernização está intimamente vinculada à essência evolutiva da própria humanidade, a motivação que a conduziu para fora das cavernas e descobrir o mundo.
Reconheço que quem não está afeito às coisas da política, ou mesmo ao uso da gramática, fica confuso diante dos exemplos contraditórios apontados como sinônimo de modernização, especialmente quando o grito retumbante que a alardeia brota da boca da elite que sempre usufruiu o que agora acusa de velho e desbotado pelo tempo. Nesse caso, então, vale a pena ser mais precavido, pois a nova expressão pode ter como significado fazer com que o combatido passado se torne o presente recauchutado. É o que também se conhece como mudança involutiva, aquela em que se regride às condições críticas do ontem, ressuscitando crises ou teses já superadas no avançar da história, várias delas quedadas na Bastilha de 1789.

A proposta de reforma trabalhista que tramita no Senado Federal é o exemplo pronto e acabado da modernização como significado de mudança involutiva. Ou, em outras palavras, o renascimento da Idade Moderna (1453-1789). Ela não pretende modernizar o Direito brasileiro, aproximando-o do Direito Social europeu ou do sistema protetivo japonês. Não pretende revogar o nativo poder patronal de demitir o seu empregado, retirando-lhe, em consequência, o seu único mecanismo de sobrevivência. Tampouco busca estabelecer regra que coíba a lucrativa política de desrespeito à legislação trabalhista, notadamente o fim da prescrição que traga direitos não pagos e a proibição de acordos judiciais que reduzem as parcas verbas restantes.

Não! A malsinada reforma trabalhista retroage ao tempo da coisificação da pessoa humana, denunciado na Revolução Francesa, praticado na Revolução Industrial do século 18, condenado na Encíclica Rerum Novarum de 15 de maio de 1891 e combatido nas barricadas e revoluções do século 19 e início do século 20. Ela revoga as conquistas da classe trabalhadora, fazendo página rasgada da história o dia 8 de março de 1857, quando 126 tecelãs de Nova York foram assassinadas porque reivindicavam melhores condições de trabalho. Também joga na lixeira do tempo o 1º de maio de 1886, quando na cidade de Chicago a repressão policial resultou na morte de seis trabalhadores e incontáveis feridos. E no mesmo saco do esquecimento, os assassinatos de bravos brasileiros que defenderam o trabalho digno, como o sapateiro Antônio Martinez, em julho de 1917, e o tecelão Constante Castelani, em maio de 1919.

Apenas para exemplificar o desejo de retorno à Idade Moderna, se faz necessário apontar, em sequência alfabética e sem maiores comentários, os primores neomodernistas:
a) extinção da finalidade social do contrato laboral, fazendo valer a “autonomia da vontade patronal” na celebração e interpretação da relação trabalhista;
b) restrição do conceito de grupo econômico como responsável pelo ressarcimento da lesão trabalhista;
c) possibilidade de a negociação coletiva revogar ou reduzir direitos trabalhistas assegurados em lei;
d) ampliação dos casos de terceirização, desobrigando a observância do princípio da isonomia entre os empregados de ambas empresas;
e) eliminação das horas in itinere, não mais integrando o deslocamento no conceito protetivo do contrato de trabalho;
f) restrição das horas extras para após 36a hora semanal em regime parcial, permitindo a sua compensação e o banco de horas individual;
g) eliminação do intervalo de 15 minutos para as mulheres empregadas;
h) eliminação do intervalo mínimo de uma hora para descanso e refeição;
i) regulamentação do teletrabalho com direitos inferiores aos demais empregados e ausência de pagamento por horas extras;
j) permissão de fracionamento de férias;
k) tabelamento dos danos morais em valores irrelevantes e em parâmetros em que a moral dos pobres vale menos do que as dos ricos, no velho estilo das Ordenações Filipinas;
l) permissão do trabalho de gestantes em atividades insalubres, salvo com atestado;
m) admissão da fraude do empregado maquiado de prestador de serviços autônomos;
n) criação do trabalho intermitente, também conhecido como “trabalhador de cabide”;
o) limitação da responsabilidade patronal em caso de sucessão;
p) descaracterização de diversas verbas de natureza salarial, não as incorporando mais ao contrato de trabalho;
q) limitação da possiblidade de equiparação salarial, substituindo localidade por empresa, além de acabar com a promoção alternada de mérito e antiguidade;
r) relativização do princípio da inalterabilidade contratual lesiva, eliminando a incorporação de gratificação por tempo de serviço;
s) revogação da obrigatoriedade de assistência do sindicato na rescisão, deixando à mercê daquele que o demite o empregado que ainda precisa das verbas rescisórias para sobreviver ao desemprego anunciado;
t) fim da necessidade de negociação coletiva para demissão em massa;
u) autorização da rescisão por mútuo consentimento;
v) possibilidade de arbitragem para determinados empregados;
w) permissão de representação do trabalhador por empresa, sem participação de sindicato; x) determinação do fim da contribuição sindical obrigatória;
y) fim da obrigatoriedade de o Ministério do Trabalho atuar no estudo da regularidade dos planos de carreira;
z) criação da quitação anual de todos os direitos, pagos ou não, sob a lógica,  no país dos desempregados, do “quitar ou ser demitido”.
O esgotamento da ordem alfabética, entretanto, não implica no esgotamento das lesões trabalhistas. Seguem outras pérolas:
a) eliminação da constitucional ultratividade da norma coletiva;
b) responsabilização do empregado por dano processual;
c) ameaça ao empregado com possiblidade de se tornar devedor, mesmo quando vitorioso em alguns dos seus pedidos, desde que sucumbente noutros;
d) restrição do alcance de súmulas do TST;
e) estabelecimento de prescrição intercorrente;
f) modificação do ônus da prova, transferindo para o empregado novas responsabilidades probatórias;
g) obrigação de liquidação prévia da ação trabalhista, determinando a prévia contratação de uma perícia contábil;
h) limitação dos efeitos de revelia em direitos indisponíveis e impedimento de ajuizamento de nova demanda antes de quitação de custas;
i) retirada do protesto judicial como instrumento hábil à interrupção da prescrição;
j) admissão de prescrição total dos direitos lesionados;
k) estabelecimento da prescrição quinquenal para os trabalhadores e trabalhadoras rurais;
l) autorização de homologação de acordo extrajudicial pelo Judiciário, sem a plena garantia do direito de defesa;
m) eliminação da execução de ofício pelo juiz;
n) utilização do pior índice de atualização dos créditos trabalhistas (TR);
o) relativização do instituto da Justiça gratuita para os empregados, inclusive para fins de pagamento de honorários periciais e advocatícios;
p) eliminação da viabilidade jurídica da acumulação de pedidos;
q) permissão para que os créditos trabalhistas de empregados fixados em outros processos sejam penhorados para garantir pagamentos de honorários;
r) restrição do número de entidades que necessitam garantir o juízo para fins de defesa;
s) exigência de transcrição de ED, de acórdão e até das notas de rodapé para se admitir recursos de revista;
t) inauguração da segregatória transcendência, permitindo inclusive que a decisão judicial a respeito seja escassamente fundamentada;
u) término da uniformização de jurisprudência em TRT;
v) possibilidade de decisões monocráticas irrecorríveis em sede de agravo de instrumento; w) eliminação da exigência de depósito recursal, substituindo-o por fiança bancária ou seguro;
x) inclusão do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, mais restrito do que o novo Código de Processo Civil (CPC);
y) aceitação da arbitragem e dos planos de demissão voluntária ou incentivada (PDVs e PDIs) como institutos de quitação de direitos;

z) aniquilamento das bases fundantes da  Justiça do Trabalho.



Não sendo as letras do alfabeto latino, ainda que duplamente repetidas, suficientes para apontar todas as violações propostas, encerro por aqui os apontamentos. Não antes sem deixar de concluir que “modernizar tudo e todos” – o novo grito retumbante da elite brasileira – não passa de mera propaganda nascida, financiada e defendida por aqueles que compreendem o Direito do Trabalho como inimigo a ser vencido, pois empecilho ao lucro fácil e não distributivo da riqueza entre todos aqueles que a produzem.
Afinal, a mudança involutiva proposta na reforma trabalhista tem o sabor da perda de direitos historicamente adquiridos e o gosto amargo da supressão do conceito de trabalho como fator de dignidade da pessoa humana. O projeto que cria a nova Consolidação das Lesões Trabalhistas faz-nos lembrar que a coisificação da pessoa humana, séculos depois, ainda encontra moradia no gélido coração do capitalismo brasileiro.
Os neomodernistas do século 21, assumidamente, querem o renascimento da Idade Moderna.


terça-feira, 30 de maio de 2017

Is This The Life We Really Want? - Roger Waters - Download

Is This The Life We Really Want? - Roger Waters 



Is This the Life We Really Want? é um álbum de estúdio do cantor e compositor Roger Waters, lançado pela Columbia Records em junho de 2017 com produção musical de Nigel Godrich, também responsável pela mixagem.

Veja abaixo a tracklist de Is This The Life We Really Want?:
When We Were Young
Déjà Vu
The Last Refugee
Picture That
Broken Bones
Is This The Life We Really Want?
Bird in a Gale
The Most Beautiful Girl
Smell the Roses
Wait for Her
Oceans Apart
Part of Me Died

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Chuva, povo e Fora Temer em Uberlândia


Chuva, povo e Fora Temer em Uberlândia


Contra as medidas autoritárias e as ilegítimas e inconstitucionais retirada de Direitos Fundamentais, o povo Uberlandense mostrou seu descontentamento contra o governo Temer.






Nem a forte chuva que caiu no fim da tarde no centro de Uberlândia impediu milhares de cidadãos, das mais diversas áreas sociais, de demonstrar seu descontentamento com o desmonte do Estado Brasileiro.













Greve Geral 28/04




#GreveGeral



sexta-feira, 17 de março de 2017

Precisamos ouvir o Lenio Streck - Os presos da “lava jato”, os índios, o voyeurismo e a atriz global

O Jurista Lenio Streck tem se posicionado de maneira lúcida e contundente sobre a crise institucional que o Brasil atravessa. Na era da pós-verdade, onde convicções se sobrepõe à fatos, o jurista tem um raciocínio baseado em premissas sólidas, em argumentos em consonância com o ordenamento jurídico. Seus textos denunciam abusos, discricionariedades infundadas e o desmoronamento da Constituição Federal de 1988. É voz fundamental.  


SENSO INCOMUMOs presos da “lava jato”, os índios, o voyeurismo e a atriz global




Por Lenio Luiz Streck, no Consultor Jurídico
16 de março de 2017, 8h00

Subtese: “Voyerar” presos é o mesmo que fazer selfie em velório.
O colunista Mauricio Lima (revista Veja) conta — notícia não desmentida — que os atores Bruce Gomlevsky e Flávia Alessandra, que representam os delegados Marcio e Erika no filme sobre a “lava jato”, foram a Curitiba para filmar nas dependências da Polícia Federal. Feitas as tomadas — o local fora fechado para isso — o grupo da filmagem teve a “jenial” ideia de olhar alguns presos da “lava jato”. Foram levados pelos carcereiros a visitar as celas de Eduardo Cunha, Palocci etc., mas a maior atração querida pelos atores e membros da equipe de filmagem era Marcelo Odebrecht. Este, segundo a matéria, escondeu-se para não ser visto (ou filmado). Depois de alguns minutos, a atriz, à socapa e à sorrelfa (socapa e sorrelfa são por minha conta) conseguiu ver o troféu.
Incrível. Quer dizer, crível, porque em Pindorama tudo é possível. Os franceses faziam isso com nossos índios, certo? Os carcereiros da Polícia Federal, violando a privacidade dos presos, permitiram que os membros da equipe de filmagem vissem os “enjaulados”? Qual é o limite da humilhação? Vale tudo pela fama? Vale tudo para “mergulhar” no personagem?
No Rio de Janeiro, rasparam a cabeça de Eike Batista. Explicação da juíza: só raspamos as cabeças de presos homens porque as mulheres são mais asseadas (está escrito em uma decisão proposta pela Defensoria). E o que dizer dos episódios de Cabral e Garotinho?
E o que dizer, também, do tratamento dado aos presos “comuns”, não famosos? Humilhação cotidiana nas masmorras medievais (a expressão é do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal). Vida nua, diz Agambem. Simbolicamente o “papel” desempenhado pela atriz representa o olhar da sociedade sobre os presos. A sociedade observa como experimento. Um zoo (des)humano. Um misto de exotismo e vingança. E as conduções coercitivas? Cultura do espetáculo.
O que está acontecendo com o país? Autoridades cada vez mais truculentas e autoritárias. Em um estado da federação, desembargador mandou prender um policial que perturbara seu filho (o filho do desembargador). No Rio de Janeiro, agente que, cumprindo seu dever, exigiu documentos de magistrado, foi condenada por dizer que “juiz não é Deus”, em resposta a uma atitude própria daquilo que Faoro tão bem chamou de “sociedade estamental”. Em São Paulo, advogado foi algemado por “entrar no elevador errado” no Tribunal Regional do Trabalho. No Rio de Janeiro, juíza concede mandado de busca e apreensão coletivo em favela.
Todos os dias advogados e partes testemunham coisas tipo-estamentais. Já escrevi aqui que advogar virou exercício de humilhação cotidiana. No plano do imaginário social, tudo isso está interligado. No fundo, “os carcereiros” de Curitiba se sentem “proprietários” dos presos. Assim como os atores da Globo pensam que podem fazer voyeurismo dos detentos. Uns pensam que podem exibi-los; outros, que podem “espiá-los” (vejam a ambiguidade do “espiar”). Como se estivessem à venda. Como no século XIX, Flávia Alessandra queria examinar os dentes do preso, para ver se podia comprá-lo e, quem sabe, chicoteá-lo. Afinal, “somos” os outros — olhamos de fora. Não somos parte disso. Eis o paradoxo: pior é somos…
Consciente ou inconscientemente, é disso que se trata. Construímos esse imaginário, no interior do qual “cada um tem de saber o seu lugar”, porque alguns “eleitos” determinam as condições de ocupação desse lócus. Não é de admirar que continuamos com elevadores privativos, elevadores sociais e de serviço, estacionamentos privativíssimos, verbas especiais para tudo que é tipo de cargos. Como um dia disse a filósofa contemporânea Carolina Ferraz, justificando a separação entre elevadores sociais e de serviço, “as coisas estão muito misturadas, confusas, na sociedade moderna; algumas coisas, da tradição, devem ser preservadas”. Bingo. E que tradição, não? Ou o que disse a “promoter” Daniela Diniz: cada um deve ter o seu espaço; não é uma questão de discriminação, mas de respeito”. Como se aprende coisas com essa gente, não? É quase como olhar a GloboNews, com os filósofos Birnbaum, Kabina, Ontaime and Wolff. Nota: Promoter, até pela pronúncia (diz-se “promôôuuter), deve ser algo chique. Fazem festas para a burguesia cheirosa de Pindorama, que só usa perfumes oxítonos.
Sigo. A propósito, conto um episódio que ouvi no Rio de Janeiro há mais de 20 anos. Uma senhora, negra, fora impedida, pelo síndico, de usar o elevador social do prédio, porque empregada doméstica. Seu patrão entrou em juízo contra isso. E foi vencedor. A empregada ganhou uma espécie de “salvo conduto” para usar o elevador social. Dia seguinte à vitória, a senhora, com uma sacola das Casas da Banha a tiracolo, “embarcou” no elevador de serviço, ao que foi inquirida pelo seu patrão acerca do fato. Afinal, ganhara “permissão” para usar o elevador social. Ela respondeu: “— Doutor, eu sei o meu lugar”. Pronto. No fundo, é isso que as elites brasileiras, forjadas no patrimonialismo, conseguiram fazer. Na primeira metade do século XVI, Ettienne de La Bottie já escrevia o seu Discurso sobre a servidão voluntária. Ali ele já tentava explicar, antes da própria modernidade e dos direitos e garantias de igualdade que só exsurgiram séculos depois, as razões do “eu sei o meu lugar”.
Por isso não surpreende que tanta gente, aqui mesmo na ConJur, tenha dado razão ao juiz que disse que o advogado deveria prestar concurso para juiz, como se a profissão de advogado fosse inferior à profissão de magistrado (consciente ou inconscientemente, é isso que está por trás do discurso).Não surpreende que tanta gente tenha justificado a ação dos guardas que algemaram o advogado no TRT-2. Não surpreende que, atualmente, parcela considerável dos advogados consiga entrar no fórum mesmo quando as portas estão trancadas: sem espinha dorsal, passam por debaixo da porta. Mas, no fundo, não os culpo. Seu imaginário foi forjado desse modo. Sabem “o seu lugar”.
Não surpreende, portanto, a atitude da atriz global e dos carcereiros da polícia. Não que os carcereiros (não sei se tinha delegado na comitiva) e a própria atriz sejam elites no sentido estrito ou até que tenham consciência do que fizeram. Ocorre que, no plano do imaginário, é exatamente a incorporação desse corpus de representações que faz com que pensemos “como se fossemos”. Não esqueçamos que, com a ideologia, as coisas se invertem: por vezes quem tem mais medo da reforma agrária é quem só tem terra debaixo da unha, se me entendem a crítica à alienação (que é quando “alieno-a-minha-ação”; por isso, uma pessoa alienada “ali-é-nada”, com a permissão de minha LEER) e pedindo perdão pelo estagiário não levantar placa alguma.
E, afinal, não esqueçamos também que todos moram(os) em Pindorama. Que, como disse Millôr, tem como futuro um imenso passado pela frente.
Lenio Luiz Streck é jurista, professor de Direito Constitucional e pós-doutor em Direito. Sócio do escritório Streck e Trindade Advogados Associados: www.streckadvogados.com.br.
Revista Consultor Jurídico, 16 de março de 2017, 8h00

sexta-feira, 3 de março de 2017

SUS EM MOVIMENTO - UMA ANÁLISE CONTEXTUAL DA SAÚDE EM UBERLÂNDIA

SUS EM MOVIMENTO
UMA ANÁLISE CONTEXTUAL DA SAÚDE EM UBERLÂNDIA

Por Rogério Zeidan

Não pela mera exposição de ideias, mas sim pelos fatos – pois contra estes não há argumentos, é importante lembrar que em 2013, foi cravado na história de Uberlândia a inauguração do Modelo Público de Gestão em Saúde. Isso se deu no contexto da prejudicial privatização/terceirização da saúde pública que perdurou por quase 20 (vinte) anos em nosso Município.
Com uma Administração 100% privatizada em todos os níveis de atenção à saúde (UAIs, Hospital Municipal, Atenção Básica, Atenção Especializada e Hospital de Clínicas da UFU), o coronelismo neoliberal da privatização chegou ao seu ápice: rede de saúde municipal despadronizada, precarizada, noticiada pelos jornais entre as piores do País. E, após o repasse de mais de 1 bilhão de reais à Fundação Maçônica Manoel dos Santos, sem qualquer controle do Município (Prefeitura e Câmara) e de órgãos de controle externo (Ministério Público), a decisão judicial proferida em 13 de novembro de 2012, nos autos da Ação Civil Pública pr. n° 2004.38.03.004938-3, pelo juízo da 1ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Uberlândia, declarou A NULIDADE DE TODOS OS CONTRATOS firmados entre o Município e a privada entidade maçônica, que geriu a saúde por quase 20 (vinte) anos, sem processo licitatório e com a contratação de empregados remunerados com recursos do SUS, sem qualquer concurso público.
Diferente não ocorreu, como não ocorre, sobre um dos pontos de atenção mais importantes de Uberlândia e Região: O HC/UFU. Esse também é o locus do desmando. Historicamente sua administração é forjada por fundação 100% privada, pelo poder oligárquico de Uberlândia, em que por trás também está a maçonaria. Os graves vícios na estrutura administrativa que se confunde entre fundação e universidade, patrimônio, controle de produção e gastos públicos, são igualmente a tônica de perverso sistema neoliberal privatista que historicamente se espraia no município.
Indisfarçavelmente, assim como o crime organizado conta com a infiltração de criminosos nas mais diversas estruturas de poder, a Oligarquia Uberlandense conta também com militantes nas mais diversas esferas institucionais. Todos ávidos para a manutenção do sistema neoliberal privatista. Mas isso beneficia a quem? Teríamos mesmo no setor privado fundações e associações enquanto entidades altruístas de cunho religioso ou científico desprovidos da finalidade de lucro?
De fato, não experimentamos a democracia em nossos tempos. conselhos universitários, conselhos de graduação, conselhos municipais e movimentos sociais, dentre quaisquer outras formas de estrutura popular de participação não tem voz. Aliás, custam ser tolerados. Se o tráfico de influência e a condescendência criminosa antes de qualquer coisa, prevalece a Oligarquia, então temos mesmo o claro sinal de que “O Coronel” está acima da lei.
Hoje temos a volta das mazelas da privatização, mas não a morte do modelo público e democrático de gestão na saúde e em outras pastas. Modelo este que é dever constitucional e direito de cada cidadão.
Rogério Zeidan é:

Associado Fundador e Presidente do Instituto PACHUKANIS de Estudos Sociais Aplicados. Graduado em Direito pela Universidade de Mogi das Cruzes e Mestre em Direito Público pela Universidade de Franca (2001), pesquisador stricto sensu em Direito Penal pela Universidade de Fribourg (Suiça). É Advogado Membro da Comissão de Estudos Penais e Processuais penais da OAB/MG - Subseção de Uberlândia-MG e da Comissão de Direitos Humanos. Membro do Conselho Municipal de Segurança Pública de Uberlândia, pelo Ordem dos Advogados do Brasil 13ª Subseção. Como Educador, integra o Grupo de Pesquisa sobre Ensino Jurídico da Universidade de São Carlos - UFSCar. É Professor de direito penal e em Fundamentos do Direito, de pós graduação nas Regiões do Triângulo Mineiro e Vale do Alto do Paranaíba, da Faculdade Pitágoras S/A e da PUC/Minas. Autor da Editora SARAIVA com a obra: Direito Penal Contemporâneo: fundamentos críticos das ciências penais e outros projetos em andamento. Autor do livro: Ius puniendi, Estado e direitos fundamentais: aspectos de legitimidade e limites da potestade punitiva, pela Editora SAFE de Porto Alegre e autor de vários artigos científicos. Professor de Direito Penal convidado aos Laboratórios do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCcrim. Assessor Municipal de Saúde, Membro da Comissão Técnica de Saúde da Secretaria Municipal, da Comissão de Avaliação e Fiscalização de Contratos de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde de e da Comissão Permanente de Fiscalização de Subvenções, nos termos do Decreto Municipal nº 13.924/2013 e Coordenador da Assessoria Jurídica do Gabinete da Secretaria Municipal de Saúde do Município de Uberlândia. Membro e Conselheiro do Instituto Luiz Gama.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Jardineiro Paraguaio no Supremo

De acordo com o Estadão, Temer (o ilegítimo usurpador golpista) indicará Alexandre de Moraes para ministro do Supremo Tribunal Federal. Em homenagem à ridícula nomeação, posto o vídeo do excelente Justificando.com sobre o futuro Ministro. Com vocês, o Jardineiro Paraguaio:

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Noel - Poeta da Vila - Filme Completo








Ficha técnica completa


TítuloNoel - Poeta da Vila (Original)
Ano produção2006
Dirigido por
Estreia
2006 ( Mundial )
Outras datas 
Duração99 minutos
Classificação
Gênero
Países de OrigemBrasil

Sinopse

Aos 17 anos Noel Rosa (Rafael Raposo) é um jovem engraçado, que possui um defeito no queixo e gosta de improvisar quadras debochadas para os amigos. Noel estuda medicina e toca numa banda regional, com outros garotos do bairro. Noel gosta da companhia de operários, negros favelados e prostitutas, com quem rapidamente faz amizade. Até que um dia conhece Ismael Silva (Flávio Bauraqui), compositor que o desafia a compôr um samba. Noel usa uma paródia ao Hino Nacional para compôr "Com Que Roupa?", que faz grande sucesso nas rádios de todo país. A partir de então ele se dedica de vez ao mundo do samba, mudando a história da música popular brasileira.


Existem muitos filmes nacionais completos no Youtube, esse do Noel é um deles. Muito bom ter filmes contando a história de personagens notórios da cultura brasileira. Noel morreu jovem e mesmo assim fez história na música brasileira. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Feudalismo carcerário: guerra contra as facções para encobrir controle social

Feudalismo carcerário: guerra contra as facções para encobrir controle social


A reportagem acima foi ao ar em dezembro de 2013, ANTES do início da matança em Pedrinhas que ganhou o noticiário nacional

por Luiz Carlos Azenha
Nos Estados Unidos há quase um consenso entre conservadores e liberais de que é preciso acabar com o encarceramento em massa. Isso está expresso no notável documentário Emenda 13, da Netflix (e, de forma mais restrita, no documentário Where to Invade Next, do Michael Moore, acima).
Já são mais de 6,5 milhões de pessoas nos presídios estadunidenses. Uma farra para a privataria das cadeias a quem, como em Manaus, interessa prender mais, cada vez mais (havia três vezes mais presos que a capacidade do regime fechado na capital amazonense, a R$ 5.700,00 por preso/mês).
Umanizzare, portanto — o nome da empresa que ganhou a licitação no Amazonas e em Tocantins, sem competidores, por 27 anos, ampliáveis para 35, significa humanizar — é uma piada trágica e grosseira.
A chance de um jovem negro ser encarcerado nos EUA é de 1/3. De um jovem branco, 1/17. Os homens negros representam pouco mais de 6% da população dos Estados Unidos, mas 40% da população carcerária.
A guerra contra os negros e pobres, lançada como “guerra contra as drogas” por Richard Nixon, nos anos 70, foi uma reação à campanha pelos direitos civis.
No Brasil, nem isso houve: o genocídio da juventude negra nas metrópoles é extensão pura e simples do chicote dos 300 anos da escravidão, com as PMs fazendo agora o papel que antes era dos capitães do mato.
Mas, por que nada vai mudar no Brasil, que já tem quase 700 mil presos, 40% deles temporários, ou seja, sem condenação formada?
Porque não interessa. Ou interessa a muito poucos.
As facções praticam uma espécie de feudalismo penitenciário. Ao mesmo em que organizam os presos por direitos básicos, negados pelo Estado criminoso e violador da Constituição, as facções escravizam as famílias dos presos. Pais, tios, irmãos, primos e filhos.
São, portanto, por baixo, 5 milhões de brasileiros sujeitos ao poder delas: contribuem com dinheiro, com serviços ou compram facilidades para os parentes que estão dentro do sistema. Compram comida para que não adoeçam, água, drogas, celulares, roupas… há um gigantesco comércio clandestino nos presídios brasileiros.
E os agentes do Estado? Quando não se calam, por medo, muitos deles são coniventes ou lucram com os esquemas acima citados. Não houve uma única reportagem sobre presídios que eu tenha feito na qual não identifiquei um agente de Estado envolvido nos esquemas que beneficiam as facções.
Fora das cadeias, é óbvio o envolvimento de policiais civis e militares, sem falar de gente de outras esferas, na partilha ou participação nos gigantescos lucros do tráfico e do consumo de drogas.
Finalmente, há as empresas da privataria dos presídios, cujo interesse econômico direto é não só pelo encarceramento em massa, mas pela venda da mão-de-obra quase gratuita dos presidiários e pela venda de serviços aos presos e a suas famílias. São, nesse sentido, competidores de facções como o PCC, que organiza as viagens de familiares a cadeias distantes no estado de São Paulo, por exemplo.
Uma das soluções óbvias para o fim do encarceramento em massa nos EUA é descriminalizar as drogas, o que o mundo civilizado vem abraçando de forma crescente.
No Brasil, o governo que promete esvaziar cadeias é o mesmo que aprofunda a desigualdade social, cortando direitos. E o ministro que comanda o debate quer eliminar os pés da maconha de um continente inteiro à base do facão!
A diferença entre Estados Unidos e Brasil, neste caso específico, é que há uma gigantesca massa de brasileiros desinformados que não quer qualquer solução para os problemas do sistema prisional, mas torce apenas para que os presos se matem nas cadeias e exibam os vídeos nas redes para satisfação do desejo de vingança pessoal.
Tudo indica que as empresas dos Estados Unidos, cujos lucros no ramo agora correm risco, busquem mercados fora de lá — e o Brasil é um destino evidente.

Portanto, aqui, podem esperar: a “guerra contra as facções criminosas” será apenas mais uma faceta de nossa antiga guerra contra os pobres, com remessa de lucros aos estrangeiros que nos venderem “novas tecnologias” de controle social — de câmeras de segurança a tornozeleiras, de pistolas de choque a sistemas de monitoramento à distância.