sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Direitos Humanos x Reacionários!


O sentimento reacionário da pessoas tem se manifestado com muita intensidade nas redes sociais. Talvez tal fenômeno se dê pelo fato de que mesmo timidamente certos direitos e garantias fundamentais estão começando a se efetivar e tais pessoas, geralmente da classe média, sentem-se incomodadas de não gozarem mais de tais prerrogativas de forma exclusiva. 


Certas pessoas se sentem bastante incomodadas ao saberem que o filho do pedreiro faz o curso universitário junto com o seu filho, que a sua empregada doméstica terá direito ao Fundo de Garantia e poderá ter sua casa própria. 
Porém ao levantarem bandeiras tão radicais, como pena de morte, execução sumária de "criminosos", tortura, redução da maioridade penal, linchamento moral de pessoas que não foram submetidas ao devido processo legal, e vários outras barbaridades, essas pessoas não entendem que estão indo contra algo muito caro à todo cidadão - a Segurança Jurídica - que impede que o Estado, ou mesmo alguém mais provido de força, possa lhe tirar bens jurídicos como liberdade, integridade física, liberdade de pensamento, e outros institutos consagrados pelo Estado Democrático de Direito.

Lutar para que um "bandido" não seja torturado, e que o Estado respeite os Direitos Humanos, é lutar para que NENHUM cidadão seja torturado! Porque ao flexibilizar os Direitos Humanos, negando-lhes a certa parcelada da população taxada simploriamente de bandidos, qualquer cidadão pode cair nesse rótulo de bandido e ter a sua humanidade extirpada por torturadores!

Pela BR 365


Agosto à dentro, a umidade já escassa, o salário no fim, a noite alta, o sono distante. A van apertada sacolejava por sobre os buracos da estrada. Aos solavancos e perdido em devaneios, pensava na vida.


Como desacelerar o turbilhão de pensamentos? Como dar um refrigério à sua mente atormentada? Já não acreditava ser possível. Condenado a seguir viagem sem pregar os olhos! A lua cheia deixava às claras a paisagem em torno da estrada. O fogo limpava a beirada do acostamento, queimando o mato ressecado, proporcionando um espetáculo de cores. A poeira deixava ainda mais áspero o ar que respirava.

Os dias passavam muito rapidamente, dando sempre a impressão de que todos os dias eram iguais. Dias com poucas tristezas, porém com alegrias tão desbotadas. Se sentia incomodado com a efemeridade do próprio tempo. A fluidez dos momentos se mostrava para ele como uma alienação dos sentimentos. Pensava não ter tempo de sentir. O gozo tão fugaz parecia um retrato desfocado em sua memória. A expectativa do futuro não lhe entusiasmava, o presente se mostrava uma fábrica bizarra de passado! O presente não se sustenta. Não há como se agarrar ao presente! Ainda mais agora que a van chega ao destino final.

Tiritica e a democracia


   Tem muita gente que utiliza o Deputado Federal Tiririca como símbolo de má escolha política. Sua grande votação nas eleições passadas foram consideradas por muita gente como uma aberração. Várias pessoas praguejavam frases como "brasileiro não sabe votar", "merece mesmo tá na merda, elegendo o Tiririca" .
   Discordo radicalmente. Se fosse paulista nunca votaria no referido candidato. Creio que ele não representa meus interesses, além de achar que ele faz sua campanha pouco politizada. Porém creio que é muito significativo em uma democracia qualquer um poder se candidatar e ser eleito.
   Após seu primeiro mandato, foi um parlamentar que teve alta presença no parlamento, tendo poucas faltas, apresentou vários projetos de lei e defendeu a sua classe, dos artistas circenses. Na minha visão, teve um papel digno. 
   Por outro lado, parlamentares como Jair Bolsanaro, Marco Feliciano, Conte Lopes, o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha, esses sim, são exemplos de políticos que pregam o ódio, a discriminação, a intolerância e a mitigação dos Direitos Humanos. Estes citados, dentre outros, são perigos institucionais, já o Tiririca, esse não me preocupa!

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Crítica Literária - O Irmão Alemão

O Irmão Alemão
 (Chico Buarque - 2014 - 230 páginas - Editora Companhia das Letras)
Por Léo Demétrius em seu blog Prosa e Poesia


Bem escrito, repleto de remissões literárias, artísticas e históricas, Chico deixa transparecer “de onde veio”. Sua formação cultural e intelectual transparece a cada página. O texto faz a mente leitora viajar por uma São Paulo cosmopolita pré e intra regime militar, repleta de estrangeiros, com mulheres modernas e sexualmente emancipadas, de boemia e atmosfera leve que pesa gradativamente com o advento da ditadura e suas consequências na vida dos personagens.


A obra tem muitos pontos positivos, porém tantos outros negativos.


O livro apresenta-se, em primeiro momento como uma mistura de ficção e obra biográfica do autor e de seu renomado pai. Mas, logo se mostra muito mais ficção do que realidade.


A começar pelo irmão, Mimmo. Este irmão não existe. Dos reais o Chico não trouxe nenhum, muito menos alguma de suas 4 irmãs. O que existe de real, concernente à família do autor, é Sergio, seu pai, e ele, o próprio Chico. E, claro, o irmão alemão. Nem mesmo sua mãe, a quem chama no livro pelo nome fictício de Assunta, é real.


De tais figuras cabe tecer alguns pontos negativos na narrativa: Sérgio Buarque se apresenta mais como um imperador num gabinete a quem não se deve incomodar do que um pai de família. Ele, basicamente, fuma, lê e chama o tempo todo por sua “bibliotecária e serva particular”, a esposa. Pouco fala, senão com o irmão maior, mesmo assim porque o autor relata isso;

A mãe é a caricatura de uma italiana dona de casa, de emoções nada fleumáticas, o tipo “mama mia!” e que em nada lembra a real Maria Amélia, a qual, da pouca biografia que sei, de “Amélia” só tinha o nome, porque uma intelectual engajada, mulher moderna, que junto com o marido idealizou e participou da fundação do PT. Porém, na trama, não é mais do que uma espécie de bibliotecária amadora que cozinha e tudo ajeita para a família. A tutora de toda a família, cuja configuração não é diferente da tradicional família brasileira do início de século XX;

Mimmo, o irmão fictício, é um rival sexual do autor, descrito, a generosas pitadas de inveja, como um mulherengo canastrão e insensível à caça de virgens e por quem não tinha muita afeição.  


Toda a história gira em torno da casa paterna. As paredes feitas de livros os quais o autor silenciosamente investiga e conhece; e o pai sempre recluso no escritório, mergulhado em suas leituras e escritas. 


Situações subjetivas aparecem insondáveis quanto ao seu aspecto real: A relação do autor com o pai, cuja impressão no leitor é que essa é quase inexistente e bem distante, sendo uma constante o interesse do autor em fazer-se notado, aproximar-se. Por outro lado, o irmão mais velho possui essa relação próxima, de filho amigo, confidente, solícito, embora intelectualmente e literariamente menos formado e capaz do que o autor (talvez aí a inveja latente), enquanto ele é um admirador dos livros do pai e deste como um intelectual de renome. 

O autor é também impetuoso linguista que fala perfeitamente o alemão e francês, talvez, novamente, para chamar a atenção do pai. Sensível à poesia, à literatura, às artes e sempre apegado emocionalmente às mulheres de sua vida.  


De modo geral a dinâmica do discurso é boa. Exceto pelo excesso de divagações no futuro do pretérito que não se resume ao assunto irmão alemão. Neste caso, compreensível, já que o autor quer denotar sua ansiedade e angústia em saber de tal irmão e dos desfechos de sua vida, recolhendo e farejando pistas. O problema é que em todo assunto há essa tendência em divagar longamente pelo futuro do pretérito, o que torna o texto pastoso e às vezes repetitivo.


Num certo momento, quando amigos e até seu próprio irmão são vitimas da repressão, o discurso patinha e perde o ritmo. Analogias, ainda que pertinentes com a Alemanha nazista, se repetem. Boa parte a “meio” do livro é dedicado ao sumiço de Mimmo, do vizinho Ariosto e à decadência silenciosa dos pais que nenhuma via sacra fizeram para saber do paradeiro do filho. Algo muito improvável sendo este personagem filho do prestigiado Sergio Buarque que conhecemos. Ele nada fez senão definhar sentado com livros no colo e cigarros na mão dentro do escritório de qual nunca saía.


O “voo” do discurso é retomado quando Chico finalmente viaja para a Alemanha atrás do irmão pelo qual angustiaste toda a obra. Um voo curto tal qual pato doméstico. Em um ou dois capítulos curtos a aventura na Alemanha se resolve. 


A impressão foi, inevitavelmente, a de um roteiro novelista. Um início empolgante, um meio que por vezes patinha e uma solução rápida da trama no último capítulo.

É excelente leitura, porém suponho que melhor teria sido antecipar a viagem  para  a  Alemanha e  lá desenvolver melhor   a  aventura   na procura   do   irmão.  Ainda  assim  há  um  final  emocionante,  com imagens  verídicas   de Sergio Ernst, seu  irmão alemão,  anexadas ao livro.

domingo, 16 de agosto de 2015

Carna Coxinha - A ausência da política abre caminho para o fascismo!

No dia 16 de agosto de 2015, alguns manifestantes foram às ruas de algumas cidades do Brasil para basicamente pedirem o pedido de impeachment da presidenta Dilma e protestarem contra a corrupção de maneira genérica  e abstrata. Muitos se nomearam líderes do movimento, porém nenhum dos movimentos apresentavam fatos concretos para o impedimento da presidenta eleita. 
Chamou muito a atenção nas redes sociais, uma coreografia realizada em Fortaleza/CE onde manifestantes uniformizados dançavam uma música anti pt, com movimentos semelhantes à danças carnavalescas. 

A situação mostrava mais um momento de catarse e de diversão do que um movimento político, com estratégia claras e com proposições concretas e pautadas da ordem constitucional brasileira. Pessoas contrárias às manifestações nas redes sociais apelidaram tal evento como carna coxinha, termo irônico usado para rotular pessoas de direita.
No decorrer da manifestações, alguns absurdos apareceram, como uma senhora que lamentava o fato da presidenta eleita não ter sido enforcada nos porões da ditadura militar.

Outras senhoras lamentavam o fato de não terem matados todos os esquerdistas no regime militar.

Outros propunham à Dilma, que a mesma tirasse a sua própria vida. Lamentável,

Manifestações populares são importantes e vitais para uma democracia. Porém, manifestações que pregam o ódio, violência, a instauração de uma ditadura, são um perigo evidente para a democracia. Bradar freneticamente contra um representante devidamente eleito, sem citar fatos concretos e sem saber quais as consequências de tais atos deixa um grande vácuo para o monstro do fascismo.
A Europa dos anos 20 e trinta, fragilizada pela I Guerra Mundial e pela crise de 29, viu florescer no descontentamento popular, o fascismo e o nazismo, que todos que conhecem história sabem dos seus terríveis desdobramentos.
O Brasil da década de 60 também presenciou a histeria de uma classe média que temia um golpe comunismo que nunca nem chegou perto de existir e que deu lastro para o Golpe Militar que jogou o país em uma era de trevas.
Ódio, fanatismo, intolerância e principalmente, um momento onde inexiste a proposição de pautas políticas institucionais, nossa democracia jovem e imatura, corre sérios riscos!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

What Happened, Miss Simone?

O NetFlix Produziu um belo documentário antológico sobre a vida de Nina Simone. Pianista clássica, cantora, compositora, ativista dos direitos civis e do movimento negro. O documentário, produzido por sua filha, traz imagens, entrevistas, depoimentos e da própria Nina e de pessoas próximas à ela. É emocionante!
Do excelente site O Melhor da Telona

What Happened, Miss Simone? – 2015 – Legendado


Baixar What Happened Miss Simone Legendado (2015)

what_happened_miss_simone_legendado
Baixar What Happened Miss Simone Legendado: A vida da cantora, pianista e ativista Nina Simone (1933-2003). Usando gravações inéditas, imagens raras, diários, cartas e entrevistas com pessoas próximas a ela, o documentário faz um retrato de uma das artistas mais incompreendidas de todos os tempos.
What Happened, Miss Simone? (2015) on IMDb
7.9/10

MP4 Legendado

MP4 + Legenda

Assistir Online

Nome Original: What Happened, Miss Simone?
Direção: Liz Garbus
Gênero: Documentário/Música
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Qualidade: WEBrip
Tamanho: 611MB
Formato: MP4
Qualidade do Video: 10
Qualidade do Áudio: 10
Crítica do site: http://altamenteacido.com.br/
Freedom is no fear. I wish I could have that” (Nina Simone)
Nina Simone foi uma das artistas mais poderosas e influentes da sua época, mas, ao mesmo tempo, era uma pessoa comum como eu e você: com dúvidas, inseguranças, incertezas e frustrações.
É exatamente este lado humano que o documentário What Happened, Miss Simone?, dirigido por Liz Garbos, produzido pelo Netflix e disponibilizado para seus assinantes nesse final de semana, aborda com tanto respeito.
Com relatos de seu ex-marido, sua filha, amigos de banda e de vida, o documentário narra a vida de Nina desde sua infância pobre na Carolina do Norte – quando ainda se chamava Eunice Waylon – a ascensão e queda de sua carreira na década de 60, até o fim de sua vida na França. O retrato é de uma artista brilhante, inteligente, criativa e altamente sensível a tudo que acontecia a sua volta.
Nina Simone era conhecida por ser uma mulher independente, decidida e de pulso firme, com uma personalidade marcante quando estava em cima do palco, mas principalmente quando estava fora dele.
Quando criança, aprendeu a tocar piano aos 3 anos de idade e tocava na igreja onde sua mãe era pastora. Incentivada por duas mulheres brancas – a patroa de sua mãe e uma professora de piano – a jovem Eunice investiu em aulas de piano clássico e se apaixonou pelas obras de Bach, Debussy e Beethoven, as quais tocava com perfeição e disciplina. Era uma jovem empenhada em aprender e dar o melhor de si, pois queria ser a primeira pianista clássica negra da história.
As curvas da vida – e o grande preconceito racial da época – fizeram com que Eunice assumisse uma nova persona – Nina Simone – para tocar nos bares da cidade e ganhar algum dinheiro para sustentar sua família. Longe de poder tocar a música clássica que tanto amava, Nina se viu forçada a tocar música popular e a cantar para agradar a clientela, trabalhando longas e exaustivas horas.
Nina Simone
Nina Simone em entrevista no Carnegie Hall, em Nova Iorque
Um dos pontos mais enfatizados no documentário é o relacionamento de Nina Simone com o seu trabalho e o quanto ele consumia uma parte considerável de sua vida. Na verdade, não havia distinção entre seu trabalho e sua vida particular – ou até mesmo social. Nina casou-se com um homem poderoso que se tornou seu agente e colocava o trabalho sempre em primeiro lugar. Mesmo cercada de pessoas interessantes e podendo usufruir dos prazeres da vida, Nina Simone era uma mulher que vivia para o trabalho – um trabalho que foi mais um acidente de percurso do que um planejamento consciente: a frustração por não ter se tornado a primeira pianista clássica negra da história ainda lhe assombrava e dominava todas as suas frustrações com o universo em que vivia.
Some-se a isso uma sociedade completamente dividida pelo preconceito racial na década de 60, um mercado fonográfico seletivo e exigente, um marido abusivo e uma vontade explosiva de fazer alguma coisa para sair desta condição. Havia algo que fazia com que a Sacerdotiza do Soul não se encaixasse nesse mundo.
No ápice da luta pelo fim da segregação racial, comandada por nomes como Malcolm X e Martin Luther King, Nina sentiu-se na obrigação de abraçar a causa com toda a intensidade de seu coração, como uma forma de inspirar seus companheiros negros – e de se libertar das amarras de sua vida. A causa parecia tocar fundo nas insatisfações de Nina – e não tinha como ser diferente. Deixando as músicas românticas de lado – como a celebrada I Loves You, Porgy – o foco de seus shows eram as composições de forte cunho político, como a polêmica Mississippi Goddam e Ain’t Got No… I’ve Got Life, o que elevou a cantora ao status de porta voz de toda uma geração de afroamericanos que lutavam por direitos civis igualitários.
Ao mesmo tempo, o tom violento de seus discursos ativistas fez com que Simone fosse naturalmente afastada da mídia convencional. A coragem de Nina Simone em imprimir questões tão delicadas de forma tão explícita em suas canções-protesto foi essencial para que o empoderamento de uma legião que fazia parte do movimento negro nos Estados Unidos.
Mais uma vez, a personalidade forte de Nina Simone – intensificada por um transtorno bipolar tardiamente diagnosticado – e a incansável insatisfação com todos os aspectos de sua vida levou a Sacerdotiza do Soul a abandonar os palcos, abandonar o país e seguir sua vida na Europa, onde retomou sua carreira no final da década de 70 e onde permaneceu até o fim da sua vida em 2003, quando faleceu após lutar contra o câncer de mama.
What Happened, Miss Simone? é um documentário obrigatório, não apenas para quem gosta de música e se interessa pela trajetória de uma das mulheres mais relevantes da história política e musical dos anos 60, mas também para revelar todo o brilhantismo e sensibilidade de uma artista perseguida por seus próprios medos e fantasmas, mas que teve a coragem de enfrentar de peito aberto os preconceitos de sua época e os opressores de sua vida, em busca da liberdade que tanto desejava.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Romário põe a Veja de joelhos, e revista “se desculpa” após sustentar mentira por 2 semanas

por Fernando Brito, no Tijolaço

joelhos
Num dia de tanto constrangimento, uma alegria.
A de ver, mesmo de forma hipócrita, a Veja pedir desculpas a Romário por ter publicado um extrato falso de uma suposta conta bancária no exterior, que pertenceria ao Senador fluminense.
Hipócrita porque, das duas uma: ou a revista foi criminosamente irresponsável ao reproduzir um documento falso recebido de alguém, e neste caso tem a obrigação, até para que sejam tomadas as providências legais, de dizer como e quem o forneceu; ou, então, a revista foi deliberadamente criminosa ao participar como autora ou cúmplice de uma falsificação abjeta.
Se não foi, porque alegar que não se retratou porque ” pairavam perguntas sem respostas sobre a real natureza do extrato, de cuja genuinidade VEJA não tinha razões para suspeitar”. É mesmo? Vai, então, a revista preservar o “sigilo da fonte” de um bandido que a usou para demolir a reputação alheia?
Se não veio do Ministério Público – que é o que diz a edição difamadora -, de onde veio?
Que meio de bandidagem é este onde a Veja é ferramenta da desonra e, quando descoberta nesta imundície, diz que está só fazendo “jornalismo”? Que turma é a da Veja? Os Demóstenes, os Youssef, os falsários?
Romário fez um golaço para a democracia e para o jornalismo brasileiro.
Deveria estar sendo aplaudido de pé pelos jornalistas, porque fez o que a Veja não fez: buscou as provas da verdade e honrou o que havia afirmado. Não se intimidou pelo clima de “todo mundo é ladrão” construído pela mídia, com a Veja à frente, e “peitou” um veículo quase sempre impune de notas de esgoto.
Tomara que não tenha esquecido os tempos de craque como jogador e aja como craque na política. O adversário levou um gol no contra-ataque e balançou. Hora de ir em frente e marcar o segundo: a revistá é confessa, não há mais materia de prova a discutir, é só a de direito – inquestionável – à indenização proporcional ao dano causado.
E que dano, para um político, um mandatário, ser apontado pela revista de maior circulação do país (não é o que ela própria afirma?), com repercussão em toda a imprensa do país, como um praticante de crime financeiro?
Faça a Veja desculpar-se com aquilo que ela ataca nos outros, mas pratica a rodo: exposição degradante e dinheiro.
Mate o jogo, Romário.
Leia a nota da Veja:

VEJA reconhece erro e pede desculpas a Romário

Em seu perfil no Instagram e em sua página na internet, o senador Romário de Souza Faria publicou a informação de que recebeu do banco suíço BSI um documento (leia a íntegra em francês) enviado por aquela instituição financeira às autoridades daquele país. “Nós estabelecemos como certo que este extrato bancário é falso e que o Sr. Romário de Souza Faria não é o titular desta conta em nosso banco na Suíça.”
O extrato em questão foi publicado há duas semanas por VEJA como prova de que Romário era titular de uma conta bancária na Suíça com saldo equivalente a 7,5 milhões de reais. O comunicado do BSI não deixa dúvida sobre as adulterações no documento e pede às autoridades que investiguem a autoria da falsificação.
Por ter publicado um documento falso como sendo verdadeiro, VEJA pede desculpas ao senador Romário e aos seus leitores. Esse pedido de desculpas não veio antes porque até a tarde desta quarta-feira ainda pairavam perguntas sem respostas sobre a real natureza do extrato, de cuja genuinidade VEJA não tinha razões para suspeitar.
A nota do BSI dissipou todas as questões a respeito do extrato. Ele é falso.
A investigação desse episódio, no entanto, continuará sendo feita por VEJA.

Estamos revisando passo a passo o processo que, sem nenhuma má fé, resultou na publicação do extrato falso nas páginas da revista, evento singular que nos entristece e está merecendo toda atenção e cuidado para que nunca mais se repita.



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Árido Blues (Blues de Agosto)

                                                       
Por Francisco Águas
                                                            
                                                            O vento corta a cidade
                                                            e o meu peito empoeirado
                                                            O ar é seco, sem humidade...   
                                                            É agosto endiabrado.

                                                            O fogo varre a cerrado,
                                                             enegrece o chapadão.
                                                             O redemoinho gira desvairado
                                                             Espalha labaredas pelo chão.

                                                             Os cachorros tão insanos,
                                                              perambulam todos tensos
                                                              Com seus instintos tão tiranos
                                                              Em busca de coitos tão intensos.

                                                                                Refrão
                                                                Ó agosto agreste,
                                                                Mau gosto me deste,
                                                                por isso eu canto...   
                                                                eu canto... esse blues,
                                                                um árido blues,
                                                                tão árido... blues.
                                                              
                                                                O desgosto inerente,
                                                                o agouro tão temido
                                                                a solidão se faz presente.
                                                                É agosto o mês perdido.

                                                                A angústia companheira,
                                                                a náusea habitual.
                                                                A felicidade é tão rasteira.
                                                                A tristeza é fatal.

                                                                Agosto, agosto,   
                                                                Seco agosto,
                                                                Mais seco é o meu...
                                                                Coração...

   São os ventos de agosto,
               secando o sertão,
               é promessa de tristeza,
               no meu coração!

domingo, 2 de agosto de 2015

O nonada no mundo



Retirado da: http://www.revistapessoa.com/2015/07/o-nonada-no-mundo/

Como o Maurício Meireles noticiou em O globo há algumas semanas, estou na rua, no meio do redemoinho, às voltas com a possível (necessária, desejada, mirabolante) retradução para o inglês de Grande Sertão: Veredas, do inestimável João Guimarães Rosa. Digo “possível” porque ainda estou tentando viabilizar o projeto. Tudo é e não é… Mas vamos por partes.
A história do romance em inglês é uma verdadeira saga. Como não é muito conhecida fora do meio acadêmico, vou contar um pouco aqui.
A obra magna do Rosa já foi publicado em inglês, em 1963, como The Devil to Pay in the Backlands, pela prestigiosa editora nova-iorquina Alfred A. Knopf, responsável pela publicação de diversos autores do boom latino-americano dos anos 1960 e 1970. A primeira tradutora (o fato de ter tido mais de um já, por si, deveria ser uma alerta) foi a Hariett de Onis, uma das principais tradutoras do espanhol da época, que tinha “descoberto” a obra do Joãozinho e levado à atenção da editora. Mas, em determinado momento, a Hariett abandonou o projeto por motivos pessoais. O lexicógrafo James Taylor – responsável por um dos melhores dicionários do português para o inglês que conheço – terminou a tradução e a Hariett fez uma revisão final. Ninguém sabe ao certo onde fica a costura entre uma parte e outra, o que, teoricamente, deveria ser uma coisa boa. Mas o fato é que a tradução deixou um pouco a desejar. Um pouco muito, na verdade.
Na época, saiu uma resenha no New York Times, do influente crítico literário Willian Grossman, com o título “Outlaw With a Problem” (Jagunço com um problema). A versão americana não é de todo ruim, reconhece o Grossman, e eu concordo. É de leitura gostosa, fluida – o texto é envolvente e a história para em pé em outra língua. O problema é que a parte mais inovadora do romance foi subtraída. Porque, além de ter sofrido diversos cortes de trechos mais complexos, a tradução não reproduz a linguagem colorida e idiossincrática do Rosa. Transmite apenas o enredo, numa prosa mais convencional.
Às vezes me pego pensando na Hariott – que tinha o português como terceira língua, não tão fluente quanto seu espanhol – sentada lá com a máquina de escrever, tentando atravessar aquela vasta areia movediça da linguagem roseana que vai de capa a capa. Seria difícil hoje… que dirá no fim dos anos 1950, sem email, sem o Google, sem o Skype. Sem toda a fortuna crítica que foi erigida ao longo das seis décadas desde a publicação do livro no Brasil. Para tirar dúvidas, era necessário trocar cartas com o autor, um processo que não deve ter sido nada ligeiro na época. E eu, que já traduzi algumas páginas desse livro, sei que as dúvidas são praticamente infinitas.
Há quem diz que a Hariott desistiu por motivos de saúde, mas me lembro de ter lido (ou ouvido?) em algum lugar que ela teria escrito uma carta para o Alfred Knopf, dono da editora, dizendo que estava levando muito tempo e que, se continuasse na empreitada, não faria mais nada da vida. O que entendo 100%. Seja qual for a razão verdadeira – talvez até uma combinação das duas –, imagino que a dificuldade do projeto tenha se apresentado como um rio intransponível para ela. Sei bem o que é ver o dinheiro do adiantamento acabando, as contas acumulando, e o trabalho não engrenar, não sair da primeira marcha por causa da dificuldade.
Mas a prosa mais domesticadora da versão em língua inglesa não deve tudo à dificuldade do texto em si. Também havia, naquele tempo, uma tendência a transpor textos estrangeiros para um contexto mais familiar, o que a Onis e o Taylor fizeram com êxito, buscando referências do velho oeste americano na sua tradução. Acreditaram que era para o bem do livro, porque era o que se acreditava então.

O próprio Rosa, que acompanhava a tradução de longe, por cartas, caia em contradição, ora perguntando se não era possível recriar a linguagem exótica do original em inglês, ora elogiando a tradução e citando a “maior fluidez” como algo positivo. Imagino que tenha sido atordoante para ele: por um lado, escritor, exigente com ele mesmo, disposto a correr riscos com a linguagem e levá-los até as últimas conseqüências, razão pela qual Grande Sertão: Veredas existe; por outro, diplomata, acostumado a negociar e conduzir várias partes para um entendimento. Ansioso, por um lado, que a tradução representasse bem o original; impaciente, por outro, que fosse aceito e lido pelo maior número de pessoas. Ele queria muito que seu sertão ganhasse o mundo e via o mercado de língua inglesa como a porta de entrada.
O livro em sua encarnação de língua inglesa – diferente da carreira em outros idiomas – não chegou nem a uma segunda tiragem. Parou na primeira – uma edição linda de capa dura. Vendeu em torno de 2 mil exemplares e foi caindo no esquecimento. Mas não completamente. The Devil to Pay in the Backlands é objeto de um site nos Estado Unidos, A missing book, organizado pelo Felipe W. Martinez, que reúne diversos artigos acadêmicos, matérias de jornal e entrevistas sobre a obra. Em 2002, constou numa lista dos “100 melhores livros de todos os tempos” publicada no jornal inglês The Guardian. A lista foi apurada a partir de indicações de escritores do mundo inteiro. Alguns meses atrás, João Guimarães Rosa constou em outra lista, do Literary Hub, de “10 excelentes escritores que ninguém lê”, que atribui o problema à “tradução imperfeita” de 1963, e ao fato desta estar fora de catálogo há décadas. Também levanta a hipótese de o livro ser “intraduzível” – teoria que cai por terra quando se considera as traduções bem-realizadas para outros idiomas.
Apesar da recepção morna da tradução americana e da opinião unânime de que a obra carece de uma nova tradução, poucos se atreveram a se aventurar na empreitada, e, dessas tentativas, nenhuma vingou. Uns anos atrás, um renomado agente literário americano traduziu cerca de 40 páginas antes de desistir por falta de tempo. Dizem que o célebre tradutor Gregory Rabassa – responsável pela tradução de diversos clássicos latino-americanos – também teria se interessado, mas em algum momento percebeu que não haveria tempo hábil. Uma terceira pessoa que seria um candidato ao posto disse numa entrevista que só poderia se dedicar à tradução se ganhasse na loteria. Outros aspirantes chegaram a produzir amostras do livro em inglês, mas não obtiveram aprovação, ou desistiram quando se deram conta da enormidade da travessia. Estão percebendo o padrão?
Quase todas as traduções desse tipo são feitas por professores universitários, que conseguem inserir a tradução nas suas atividades acadêmicas remuneradas. Lá se vão anos, e um dia o livro sai. Todas as outras pessoas com as qualificações necessárias para sequer tentar a tradução de Grande Sertão: Veredas desistiram – ou nem começaram – por contingências da vida prática. Perceberam que o dinheiro não estica tanto; e o que as editoras poderiam pagar pela tradução cobriria as contas por alguns meses, mas não pelos anos de pesquisa, consultas, imersão, elaboração e infinda revisão necessárias para um trabalho desse porte.
Daí o impasse, as desistências todas. E é por isso que estou atrás de apoio externo, porque simplesmente não tenho condições de ir tocando a tradução em paralelo com outras coisas (primeiro, porque requer uma atenção não-fragmentada; segundo, porque iria demorar uma eternidade) ou parar tudo e fazer a tradução por conta própria (aquela velha história das contas pra pagar). Há quem se interessa em financiar o projeto, editoras dispostas a publicar a tradução nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Brasil, numa edição bilíngue, mas ainda tem um tanto de burocracia pela frente. Dedinhos cruzados para que se resolva em breve!
Mas vamos ao que realmente interessa: dadas as condições de trabalho certas, é possível fazer uma tradução de Grande Sertão: Veredas que não sofra muitas perdas? Acredito que sim. A extração dos sentidos contidos no original vai dar trabalho, e muito. Mas a solução está na recriação, mais do que na tradução, se é que me entende. Em outras palavras: o Guimarães Rosa escreveu um romance. Terei de traduzí-lo. Mas ele também inventou um dialeto ficcional no qual a história é contada. E esse dialeto, cheio de neologismos e sintaxes exóticas – essa alquimia lingüística roseana que tanto encanta os leitores –, não tem tradução. Tanto que deixaram fora da versão de 63. Terei de reinventá-lo na minha língua, numa espécie de laboratório poético, buscando ritmos, aliterações, registros, arcaísmos, coloquialismos e tudo o mais que já existe no inglês, ao mesmo tempo que vou ter que criar os neologismos e novas sintaxes de um sertão literário que espelha o original, mas que não é, obviamente, uma cópia exata dele. A salvação está na criatividade do original. Diferentemente de outras traduções, não será o fim do mundo se não existe uma tradução precisa para determinada palavra ou frase em inglês. Posso recorrer ao neologismo, desde que faça sentido dentro do contexto da frase e do trecho, desde que orne. Se não houver um jeito idiomático de dizer tal coisa em inglês, tudo bem, já que nada é exatamente idiomático no original. O que não quer dizer que vou sair por aí inventando coisas que não estão no livro, apenas que as possibilidades para encontrar soluções são mais amplas, tão vastas quanto a imaginação. Quer dizer que, neste sertão das palavras, onde tudo é e não é, as veredas são muitas.

Alison Entrekin é tradutora literária australiana radicada no Brasil. Verteu para o inglês Cidade de Deus, do Paulo Lins, O filho eterno, do Cristovão Tezza, Perto do coração selvagem, da Clarice Lispector e Budapeste, do Chico Buarque, entre outros.